sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Onde está?


Onde está?
Quem viu?
Passou, e ninguém
Ouviu ou viu.

A Voz foi calada,
Presa pelo soluço,
Prejudicada no calabouço.
Sem voz, se foi.

Onde está?
Quem viu?
Passou apressada.
A Esperança se exauriu,
Sem ânimo,
Sem exasperar, se foi.

Quem me alegra e me felicita,
Onde está?
Volte onde quer que esteja,
Volte com a Voz da Esperança.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Momento Clarice Lispector

         “Ficaram em silêncio.
- Nunca falei tanto, disse Lóri.
- Comigo você falará sua alma toda, mesmo em silêncio. Eu falarei um dia minha alma toda, e nós não nos esgotaremos porque a alma é infinita. E além disso temos dois corpos que nos será um prazer alegre, mudo, profundo.
Lóri, para a surpresa encantadora de Ulisses, enrubesceu.
Ele examinou-a profundamente e disse:
- Lóri, você está vermelha e no entanto já teve cinco amantes.
Ela abaixou a cabeça, não em culpa, mas numa infantilidade de criança que esconde o rosto. Foi o que Ulisses pensou e seu coração bateu de alegria. Porque ele estava infinitamente mais adiantado na aprendizagem: ele reconhecia em si a alegria e a vitória.
De novo ficaram em silêncio. Como se sentisse que haviam falado mais do que ela no presente, poderia suportar, Ulisses tomou dessa vez um tom mais leve e casual:
- Há quanto tempo você se formou, quero dizer, para ser professora?
- Cinco anos.
- Tudo em você é cinco? perguntou sorrindo. Aposto que você era a primeira da turma.
Ela se surpreendeu:
- Como é que você sabe?
- É que suas colegas também estavam ocupadas em viver, e você, para não sofrer, deve ter se dedicado encarniçadamente ao estudo. Aposto também como você é das melhores professoras da escola.
- Pelo mesmo motivo? perguntou sombria.

-É. Não quero dizer que os motivos de ser dos melhores sejam sempre os mesmos. Eu, por exemplo, suponho ser dos melhores professores da faculdade. Primeiro porque a matéria* sempre me apaixonou e eu esperava dela que me respondesse a perguntas, que me fizesse pensar. Tenho um prazer enorme de pensar, Lóri. Depois, por sorte, tive ótimos professores, além de simultaneamente ser um autodidata: quase todo o meu dinheiro então era aplicado na compra de livros caríssimos. Outra sorte que tenho como professor: ser amado pelos alunos. Mas eu também vivia, e continuo vivendo agora. Enquanto você é boa professora mas nem se permite talvez rir com os alunos. Depois você aprenderá, Lóri, e então experimentará em cheio a grande alegria que é de se comunicar, de transmitir.
Lóri mantinha-se calada e séria.
- Lóri, leia este poema e entenda – tirou do bolso um papel amarrotado – faço poesia não porque seja poeta mas para exercitar minha alma, é o exercício mais profundo do homem. Em geral sai incongruente, e é raro que tenha um tema: é mais uma pesquisa de modo de pensar. Este talvez tenha saído com um sentido mais fácil de aprender.
Ela leu o poema, não entendeu nada e entregou-lhe a folha de papel de volta, em silêncio.
- Se um dia eu voltar a escrever ensaios, vou querer o que é o máximo. E o máximo deverá ser dito com matemática perfeição da música, transposta para o profundo arrebatamento de um pensamento-sentimento. Não exatamente transposta, pois o processo é o mesmo, só que em música e nas palavras são usados instrumentos diferentes. Deve, tem que haver, um modo de se chegar a isso. Meus poemas são não poéticos mas meus ensaios são longos poemas em prosa, onde exercito ao máximo a minha capacidade de pensar e intuir. Nós, os que escrevemos, temos na palavra humana, escrita ou falada, grande mistério que não quero desvendar com o meu raciocínio que é frio. Tenho que não indagar do mistério para não trair o milagre. Quem escreve ou pinta ou ensina ou dança ou faz cálculos em termos de matemática, faz milagre todos os dias. É uma grande aventura e exige muita coragem e devoção e muita humildade. Meu forte não é a humildade em viver. Mas ao escrever sou fatalmente humilde. Embora com limites. Pois no dia em que eu perder dentro de mim a minha própria importância – tudo está perdido. Melhor seria a empáfia, e está mais perto da salvação quem pensa que é o centro do mundo, o que é um pensamento tolo, é claro. O que não se pode é deixar de amar a si próprio com algum despudor. Para manter minha força, que é tão grande e helpless como a de qualquer homem que tenha respeito pela força humana, para mantê-la não tenho o menor pudor, ao contrário de você.”**

*Ulisses era professor de Filosofia
**Trecho extraído do Livro “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” Clarice Lispector

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Laço e Abraço


Seja meu amor

No enlace e lace.

Para que tanto laço?

Se me basta um abraço.

(15-11-2012)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Criança

No balançar,
Passa a criança,
Como um vulcão
em erupção.
Segura, a mãe, o coração,
Embalada pela emoção,
Corre atrás da ventania.
Desanda a gritar sem mania:
- Menino, menino, quer me matar?
Para o seu desalento, começa a rir.
- Fora só um tombo, e ele a lhe sorrir.
A mãe se tranquiliza sem se agonizar...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Quirim

No jardim de cetim
Buscam alhures
Desajeitados olhares,
Buscam o quirim.

Procuram,
Nada acham.
Desmatam,
Nadam no nada.

Nem sabem o que buscam,
O quirim está onde deve estar.
Pobre jardim,
Empobrecido ficou
Pela cobiça de não ter.
(18/11/2011)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Jogo da vida

Numa luta, há combate.
Há perdedores e ganhadores.
Como não sei perder nem ganhar.
Não luto, não combato.
(Apenas vivo e me entrego)
(24/08/2011)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Como esquecer

Esqueço-me de mim
Diante da vontade de viver
Na busca inconstante de sentir
Sentindo e vivendo, amo a vida.
Vida peculiar e pouco compreendida:
Vida ímpar.
Peregrina solitária de um
Caminho único de mim.
(31-10-2011)

domingo, 27 de novembro de 2011

Olhos Castanhos Mel


No céu dos seus olhos,
Viajei para me encontrar.
Olhos melosos castanhos
Senti-os a me amar.

Encontrei-me ao me perder,
Perdendo-me, ganhei seus olhos.
Seus olhos a me olhar,
Seus olhos a me amar.
(17-11-11)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Desgosto

Por que alguém desgosta?
Porque alguém não se gosta.
O gostar é gostar de si.
Gostando de si, gosta-se do outro.
Gostando do outro, gosta-se de todos.
Todos viram um.
(23-08-11)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Compartilhar

Quando fazemos algo bonito queremos mostrar,
Para mostrar, passamos a compartilhar.
Compartilhamos por termos gostado de algo que ninguém viu,
Por ninguém ter visto, queremos mostrar;
Mas só se vê com os olhos simples da alma.
Daí, o esplendor maravilhado de quem vê.
(23/08/11)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Lua

Lua que brilha
transforma-se em deslumbre
pela sua beleza aos apaixonados
pela sua beleza em timbre
que engrandece os enamorados


Lua que brilha
em seu horizonte
encanta
adormece
envaidece
levanta
sorrisos, risos
sem fim

Lua que brilha
ao redor das estrelas
envolve e resplandece
enfeitiça os enamorados
Para dizer: o amor tenro e eterno.
 (18/04/11)

domingo, 20 de novembro de 2011

Afinidade

Não sinto o que sentes.
Como posso estremecer?
E num momento me desprender?
A minha pele não é a tua pele.

Por que não sentes o que sinto?
A alma sente o que sinto.
Minh´alma não és a tua alma.

Queres que eu sinta o que sentes,
Mas sentes diferente da minha.
Se tua pele não adentra a minha,
Não sinto o que sentes.
(19/11/2011)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Para ti

Para ti
Em Paraty,
Teu barco navega.
E, eu a esperar.
Teu barco atraca,
Eu chego e te aconchego.
(17/11/11)

Olhos

Vejo o que vejo.
Vejo em introspectiva.
Não vejo inimigos,
Não os temo mais.
Não vejo perigos
No olhar das pessoas.
Vejo só a ausência do amor.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Doce Melodia

Doce melodia que encanta
Desabrocha em meu ser
Tu és a melodia da presença,
Tu és a melancolia da ausência.

Brotastes em um terreno insípido e áspero,
Frutificastes em um campo juvenil e pueril.
Tu és o sabor que delicio em minha boca,
Tu és a visão que norteia meus olhos.

Que teus passos, posso seguir,
Contigo fazeres companhia.
Que teus passos sigam em prumo divino,
Presente divino que nascestes da terra.

Instiga-me a florescer em teu amor
Tu és o que pedia a Deus.
Sejas a minha paz e o meu equilíbrio.
E que o teu amor me faças flutuar
Nas asas de tua imaginação.

Pela Busca

Na busca pelo puro amor.
A boemia fez-me perder.
Nas águas angelicais da ingenuidade,
Perdi-me pela imaturidade.

Ô! Contrassenso maduro.
O que tens contra os pueris?
Se tudo se inspira pelo amor!
Ô! Maturidade que nos leva a insensatez.

Deságua-se em solo infértil
Na incerteza pela vida
Despede-se,
Perde-se um amor.

Percebe-se, por fim, o seu fim,
Findo e limitado és o teu amor.
Que se despede entristecido
De um amor amadurecido.

DO ATO CRIADOR

Tudo começa com um ato criador. Embora, Lavoisier tenha dito que na "Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Então, começou em virtude da vontade íntima de se desvendar textos, prosas e poesias em minh´alma, que se transformou em um blog.

E o nome do blog? Qual o motivo da sua criação? Questionando a amigos, um deles me escreveu: "Pérolas antes de Mimi! haha! Não vá pra cama sem lê-las!"


E, assim, por honrar a honra da ideia o fiz.