Em um mar, longe da terra, um navio navega diante
da tempestade embriagada pela ressaca da mudança climática. Só os ventos
escutam os gritos de desespero dos cem tripulantes:
- As boias!! Peguem-nas!!! Força!!
- Marujo!! As velas!!! Ergam-nas!!!
E o velho vendo aquele agito das pessoas a bordo,
em sua insanidade senil, recita as palavras ao vento com os braços abertos:
- Aprendam a nadar!!! Não sabem?! Ora, bolas!
Interrompido pela tosse, volta a esbravejar
contra os quatro-ventos das sombras da tripulação:
- Então, onde estão as boias? Salva-vidas!?! No mar salgado e infinito, onde estão os
salva-vidas?!? No mar insípido, onde estão os botes do navio?!? Quem se
salvará?
Ninguém o ouve, ocupados com o destino do navio, mas ele continua e pronuncia uma profecia:
- Os instintos primitivos sobreporão à ética!!
Perplexo contra seu próprio reflexo esculpido na
água do mar, o velho diz calmamente:
- Que ética? Essa fugiu com o espírito moral e
deixaram-nos desafortunados...
O velho molhado pela água do mar misturada com a da chuva, grita:
- Desavisados, correram para ser avisados e não
pularam! Todavia, inauguram a sua fase na idolatria. Quem poderá nos salvar?
Não os dão ouvido e persistem os guerreiros
tripulantes sãos no navio ao léu... Ah! Que destino cruel!
E o mais velho pensa e imaginando ser ouvido por
todos, questiona abertamente, franzindo a testa:
- Por hora, não nos dizem que somos livres?
Assim, falam os avessos ao Mito da Caverna... "Libertas quae sera
tamen"
E o navio, após a tempestade, segue a sua jornada
com os tripulantes e o velho louco...
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