terça-feira, 7 de maio de 2013

Navio





Em um mar, longe da terra, um navio navega diante da tempestade embriagada pela ressaca da mudança climática. Só os ventos escutam os gritos de desespero dos cem tripulantes:

- As boias!! Peguem-nas!!! Força!!


- Marujo!! As velas!!! Ergam-nas!!!

E o velho vendo aquele agito das pessoas a bordo, em sua insanidade senil, recita as palavras ao vento com os braços abertos:

- Aprendam a nadar!!! Não sabem?! Ora, bolas!

Interrompido pela tosse, volta a esbravejar contra os quatro-ventos das sombras da tripulação:

- Então, onde estão as boias? Salva-vidas!?!  No mar salgado e infinito, onde estão os salva-vidas?!? No mar insípido, onde estão os botes do navio?!? Quem se salvará?

Ninguém o ouve, ocupados com o destino do navio, mas ele continua e pronuncia uma profecia:

- Os instintos primitivos sobreporão à ética!!

Perplexo contra seu próprio reflexo esculpido na água do mar, o velho diz calmamente:
- Que ética? Essa fugiu com o espírito moral e deixaram-nos desafortunados...

O velho molhado pela água do mar misturada com a da chuva, grita:
- Desavisados, correram para ser avisados e não pularam! Todavia, inauguram a sua fase na idolatria. Quem poderá nos salvar?

Não os dão ouvido e persistem os guerreiros tripulantes sãos no navio ao léu... Ah! Que destino cruel!

E o mais velho pensa e imaginando ser ouvido por todos, questiona abertamente, franzindo a testa:
- Por hora, não nos dizem que somos livres? Assim, falam os avessos ao Mito da Caverna... "Libertas quae sera tamen"

E o navio, após a tempestade, segue a sua jornada com os tripulantes e o velho louco...

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